Por décadas, a pesquisa em comunicação buscou desvendar o poder da mídia. Inicialmente, o "paradigma dos efeitos limitados", impulsionado por nomes como Paul Lazarsfeld, sugeria que a influência da mídia era mediada por variáveis como as relações interpessoais e os "líderes de opinião". A audiência, longe de ser uma massa passiva, engajava-se em "exposição seletiva", buscando informações que confirmassem suas crenças.
Como aponta Mauro Porto, essa visão inicial, embora tenha sido criticada por ignorar a influência de financiadores e a estrutura da mídia, já indicava a complexidade da recepção. Posteriormente, surgiram enfoques que enfatizaram os "efeitos cognitivos de longo prazo", como a teoria do agendamento (agenda-setting), que demonstra a capacidade da mídia de dizer ao público sobre o que pensar.
Para o campo político, existe ainda outro conceito relevante: o enquadramento. Se o agendamento define os temas a serem debatidos, o enquadramento determina como esses temas são apresentados. O enquadramento, ao selecionar e enfatizar certos aspectos da realidade, molda a interpretação do público, influenciando não apenas o que as pessoas pensam, mas como elas pensam sobre os temas da agenda.
Para atores políticos e estrategistas de marketing, isso tem um poder imenso: a capacidade de construir a narrativa dominante. É por isto que Bolsonaro e seus seguidores de extrema direita devem ficar preocupados. Se até agora a grande imprensa estava agendando os temas contrários ao governo e os enquadrando de forma mais favorável ao mercado, muito mais simpático, senão a Bolsonaro, ao menos aos governadores mais próximos: Tarcísio de Freitas e Romeu Zema; com a sobretaxa de 50% sobre as exportações brasileiras, o caldo entornou.
A mídia foi contra agendada pelo fato ou por sua consequência para o país, inclusive para parte da elite agroexportadora. Jornais como O Estado de São Paulo e a própria Folha de São Paulo desapearam do cavalo bolsonarista de vez e encamparam o discurso nacionalista em defesa da soberania do Brasil. Com isso, pode ir para o saco da viola não só a proposta de anistia que tramita no Congresso Nacional, como o desejo do ex-presidente de controlar, pelo lado da direita, a sucessão de 2026.
A perda de hegemonia nas redes sociais online, a quebra da narrativa de patriota e a adesão da imprensa ao discurso de resistência têm levado, a cada dia, aliados de plantão a pular do barco. O resultado é uma tragédia anunciada para Bolsonaro, que pode acabar na cadeia. Para Lula, por enquanto, um alívio, mas se bem aproveitado, o cenário pode facilitar a sua disputa em mais uma eleição presidencial. O tempo dirá.