Olhando para o horizonte político de 2026, o Brasil se encontra em um momento decisivo. As tendências observadas nas últimas eleições apontam para um cenário de crescente fragmentação política, polarização ideológica e, talvez o mais preocupante, um aumento expressivo no número de eleitores desiludidos — aqueles que optam por votos brancos, nulos ou pela abstenção. Esse grupo, que já representa cerca de 20% do eleitorado apto a votar, não apenas reflete o desencanto com o sistema político, mas também exerce uma influência significativa na dinâmica eleitoral.
Historicamente, o crescimento desse segmento está associado a um perfil específico: eleitores de baixa renda, predominantemente brancos, residentes nas periferias das regiões Sul e Sudeste. Esse grupo, muitas vezes negligenciado pelas campanhas tradicionais, tem demonstrado uma correlação preocupante com o fortalecimento da extrema-direita. A narrativa de insatisfação, combinada com discursos que exploram o medo, a insegurança e a nostalgia por uma ordem rígida e valores morais conservadores, tem sido eficaz em mobilizar parte desses eleitores, mesmo que indiretamente.
A análise dos dados revela que, desde 2018, o Brasil tem experimentado um aumento na volatilidade eleitoral. A ascensão de novos atores políticos, como Romeu Zema e Tarcísio de Freitas, demonstra que o eleitorado busca alternativas fora do eixo tradicional, enquanto figuras como Jair Bolsonaro enfrentam desafios crescentes para manter sua base coesa. Paralelamente, o governo Lula, embora tenha recuperado parte da confiança popular, enfrenta o desafio de consolidar sua narrativa em um ambiente de constantes ataques e desinformação.
Nesse contexto, o crescimento do voto dos desiludidos emerge como um fator crítico. A abstenção e os votos brancos e nulos não são apenas um reflexo de apatia, mas também um grito silencioso de insatisfação. Para os partidos e candidatos que desejam triunfar em 2026, ignorar esse segmento seria um erro estratégico. É necessário compreender as motivações desses eleitores e construir mensagens que ressoem com suas experiências e aspirações.
A chave para reconquistar esses eleitores está na combinação de autenticidade e inovação. Campanhas que priorizem o diálogo direto, utilizando estratégias como o marketing H2H (Human-to-Human), têm maior chance de sucesso. Isso significa ir além das promessas genéricas e se conectar de forma genuína com as comunidades, ouvindo suas demandas e apresentando soluções concretas. Além disso, é fundamental combater a desinformação que alimenta o ceticismo e a polarização, promovendo um debate público mais transparente e baseado em fatos.
As eleições de 2026 serão um teste não apenas para os candidatos, mas para a própria democracia brasileira. Reconquistar os desiludidos não é apenas uma questão de estratégia eleitoral, mas um passo essencial para restaurar a confiança no sistema político e fortalecer os alicerces democráticos do país. Afinal, a verdadeira vitória não está apenas nas urnas, mas na capacidade de inspirar esperança e engajamento em uma sociedade que clama por renovação.
Vale lembrar que cada eleição tem uma dinâmica. Em 2008, foi o Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) o fator decisivo, com a televisão e o rádio desempenhando um papel central na formação da opinião pública, especialmente em eleições municipais. Já em 2012, a imagem pessoal do candidato ganhou protagonismo, com os eleitores valorizando a proximidade, a prestação de serviços urbanos e a avaliação do prefeito em exercício.
Em 2014, durante as eleições presidenciais, o voto econômico retrospectivo e o medo da perda de benefícios sociais foram os principais motores das escolhas eleitorais. Os debates televisivos ainda tinham peso significativo, mas as redes sociais começaram a ganhar espaço como ferramentas de influência. Em 2016, o cenário mudou novamente: a rejeição à classe política tradicional impulsionou candidatos que se apresentavam como "outsiders", enquanto o alcance orgânico das redes sociais se consolidava como um fator determinante.
Nas eleições de 2018, a mobilização digital atingiu seu ápice, superando a influência da televisão. O antipetismo, a segurança como tema central e eventos como o atentado ao então candidato Jair Bolsonaro foram catalisadores de uma eleição marcada pela polarização. Em 2020, a gestão da pandemia e a capacidade de resolver problemas concretos se tornaram os critérios mais valorizados pelos eleitores nas eleições municipais. Em 2022, a Covid e o voto de renda de utilidade dominaram o cenário presidencial, com os eleitores buscando estabilidade em meio a um ambiente de incertezas. Já para 2024, o pragmatismo local e a prova de gestão foram os fatores decisivos, com temas como zeladoria urbana, saúde básica e transporte ganhando destaque.
Para 2026, as projeções indicam que o poder de compra do eleitor — influenciado pela relação entre inflação, renda real e emprego — será um fator crucial. Além disso, a segurança pública deve novamente emergir como um tema de desempate. No entanto, o crescimento do voto dos desiludidos adiciona uma nova camada de complexidade ao cenário: o fato de a Câmara dos Deputados mais e o Senado menos estarem de costas para os interesses populares. Isso vai exigir que candidatos e campanhas adaptem suas estratégias para reconquistar a confiança e o engajamento desse segmento crescente do eleitorado.