A fake news sobre o pix, que movimentou a semana passado o Brasil, é mais que uma simples disputa entre governo e oposição; muito mais que uma nova fake news que demostrou a baixa credibilidade do terceiro mandato do presidente Lula. Na verdade, trata-se da baixa credibilidade da civilidade, das conquistas do liberalismo e da democracia.
Como lembra Bernardo Sorj (2022), o mal-estar coletivo trazidos pelas promessas não cumpridas da democracia capitalista, que deixou de produzir alternativas minimamente viáveis, em uma sociedade que cria expectativas que não pode suprir, nem mesmo com a utopia do indivíduo-empreendedor, gerou um cenário de saudosismo; de retorno ao passado, do qual se aproveitam os discursos reacionários.
Soma-se a isso, a incapacidade dos partidos políticos e entidade sociais de expressarem as identidades coletivas. E o processo de judicialização nas diversas áreas, bem como a incapacidade dos meios de comunicação tradicionais de também serem fonte primária de informação e referencial da verdade. Restou a internet, que produz uma avalanche de informações, que, em última instância, gera uma fragmentação e instabilidade da opinião pública
Perdemos a noção de referencial. Como, mais uma vez lembra, Sorj, houve o questionamento da hierarquia no espaço público. Professores, juízes, membros do clero, jornalistas, cientistas ou qualquer representante com autoridade diferenciada passaram a ser questionados. Vivemos em uma sociedade em que demonstrar maior conhecimento sobre um tema é considerado arrogantes; em que o político tem de ter uma fala “igual a do povo”, para não diminuir suas chances de sucesso. O resultado não poderia ser outro: a ascensão do populismo autoritário de extrema-direita.
Do ponto de vista da comunicação, o fenômeno fake news do pix pode ser explicado pelo agendamento e enquadramento feito nas redes sociais online – anteriormente realizados pela jornalismo da mídia tradicional –, mas também por outras teorias datadas do passado, como two steep flowers, teoria da influência e da persuasão e até mesmo teoria crítica, com a ideia da colonização da esfera pública, desta vez pelas mídias sociais da internet.
Claro, e a força das fake news e suas técnicas de propaganda de guerra: focar na polarização das opiniões, em trabalhar com raciocínio motivado e a exposição seletiva. Tudo isso, enviando Informações incompletas, tendenciosas ou falsas, distribuídas para confundir e enganar as pessoas na esfera pública. Uma associação de engano, mentira e manipulação, em extrema velocidade e alcance; com esforço coordenado para produzir convicção, atitude ou comportamento. O modelo de Goebbels bem mais sofisticado, planejado e financiado pela extrema direita brasileira e visto com uma certa simpatia do mercado e da grande imprensa.