27 May
27May

 A democracia, em sua essência clássica, é idealizada como o governo do povo, pelo povo e para o povo, fundamentada na soberania popular, eleições livres, liberdades civis e estado de direito. Contudo, o que observamos hoje é uma "recessão democrática" global, em que as promessas de participação plena e bem comum muitas vezes cedem lugar à persistência oligárquica e à dominação de grupos, gerando um crescente desencanto político. Não muito diferente da ágora grega, em que o cidadão era homem, proprietário de terras e esclarecido (não existia escola na época): uma elite.

  Este cenário negativo atual é agravado pela desconfiança generalizada nas instituições e pela apatia eleitoral, que abrem espaço para a manipulação da opinião pública através da desinformação e das chamadas "fake news". A "vontade manufaturada" e a competição de elites, em vez do foco no bem coletivo, corroem a base da participação informada e engajada, essenciais para a vitalidade democrática. 

 A crise da democracia liberal se manifesta quando políticos tratam rivais como inimigos e tentam enfraquecer salvaguardas institucionais, minando a própria estrutura que deveria garantir a responsabilização, como afirmam os autores de “Como as democracias morrem”. A falta de virtude cívica e o desengajamento permitem que interesses especiais se beneficiem do vácuo de poder, ameaçando a legitimidade e a governabilidade. 

   Para superar esses desafios, o antídoto reside no próprio exercício da democracia. É fundamental fortalecer a prática democrática, promover uma política inclusiva e investir massivamente em educação cívica e alfabetização midiática. A responsabilização, tanto vertical (cidadãos sobre representantes) quanto horizontal (instituições entre si): a accountability, e uma comunicação democrática transparente, são pilares para reconstruir a confiança e garantir que a voz do povo seja, de fato, a voz que prevalece.  

  Sindicatos, entidades organizadas, o que restou do jornalismo investigativo e independente e o cidadão com consciência cívica e política precisam começar a prestar atenção no que se chama de "parlamentarismo de colisão", um legislativo sem responsabilidade e ônus, que ameaça o executivo a toda hora em busca de mais verba para um orçamento secreto. É bom lembrar disso agora, pois apenas na campanha eleitoral de 2026 já será tarde para esse exercício de cidadania.


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